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VERBA TESTAMENTÁRIA *
"... Item, é minha última vontade que o caixão em que o meu corpo houver de ser enterrado seja fabricado em casa de Joaquim Soares, à
rua da Alfândega. Desejo que ele tenha conhecimento desta disposição, que também será pública. Joaquim Soares não me conhece; mas é
digno da distinção, por ser dos nossos melhores artistas, e um dos homens mais honrados da nossa terra..."
Cumpriu-se à risca esta verba testamentária. Joaquim Soares fez o caixão em que foi metido o corpo do pobre Nicolau B. de C.; fabricou-o ele mesmo,
con amore; e, no fim, por um movimento cordial, pediu licença para não receber nenhuma remuneração. Estava pago; o favor do defunto era em
si mesmo um prêmio insigne. Só desejava uma cousa: a cópia autêntica da verba. Deram-lha; ele mandou-a encaixilhar e pendurar de um prego, na loja. Os
outros fabricantes de caixões, passado o assombro, clamaram que o testamento era um despropósito. Felizmente - e esta é uma das vantagens do estado
social - felizmente, todas as demais classes acharam que aquela mão, saindo do abismo para abençoar a obra de um operário modesto, praticara uma ação
rara e magnânima. Era em 1855; a população estava mais conchegada; não se falou de outra cousa. O nome do Nicolau reboou por muitos dias na imprensa da
Corte, donde passou à das províncias. Mas a vida universal é tão variada, os sucessos acumulam-se em tanta multidão, e com tal presteza, e, finalmente, a memória
dos homens é tão frágil, que um dia chegou em que a ação de Nicolau mergulhou de todo no olvido.
Não venho restaurá-la. Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa apagar o caso escrito. Obra de lápis e esponja. Não, não venho restaurá-la. Há milhares de ações tão bonitas, ou ainda mais bonitas do que a do Nicolau, e comidas do esquecimento. Venho dizer que a verba testamentária não é um efeito sem causa; venho mostrar uma das maiores curiosidades mórbidas deste século.
Sim, leitor amado, vamos entrar em plena patologia. Esse menino que aí vês, nos fins do século passado (em 1855, quando morreu, tinha o Nicolau sessenta e oito anos), esse menino
não é um produto são, não é um organismo perfeito. Ao contrário, desde os mais tenros anos, manifestou por atos reiterados que há nele algum vício interior, alguma falha orgânica. Não
se pode explicar de outro modo a obstinação com que ele corre a destruir os brinquedos dos outros meninos, não digo os que são iguais aos dele, ou ainda inferiores, mas os que são
melhores ou mais ricos. Menos ainda se compreende que, nos casos em que o brinquedo é único, ou somente raro, o jovem Nicolau console a vítima com dois ou três pontapés; nunca menos de
um. Tudo isso é obscuro. Culpa do pai não pode ser. O pai era um honrado negociante ou comissário (a maior parte das pessoas a que aqui se dá o nome de comerciantes, dizia o
marquês de Lavradio, nada mais são que uns simples comissários), que viveu com certo luzimento, no último quartel do século, homem ríspido, austero, que admoestava o
filho, e, sendo necessário, castigava-o. Mas nem admoestações, nem castigos valiam nada. O impulso interior do Nicolau era mais eficaz do que todos os bastões paternos; e, uma ou duas
vezes por semana, o pequeno reincidia no mesmo delito. Os desgostos da família eram profundos. Deu-se mesmo um caso, que, por suas gravíssimas consequências, merece ser contado.
O vice-rei, que era então o conde de Resende, andava preocupado com a necessidade de construir um cais na
praia de D. Manuel. Isto, que seria hoje um simples episódio municipal, era naquele tempo, atentas as proporções escassas da cidade, uma empresa importante. Mas o vice-rei não
tinha recursos; o cofre público mal podia acudir às urgências ordinárias. Homem de Estado, e provavelmente filósofo, engendrou um expediente não menos suave que profícuo: distribuir, a
troco de donativos pecuniários, postos de capitão, tenente e alferes. Divulgada a resolução, entendeu o pai do Nicolau que era ocasião de figurar, sem perigo, na galeria militar do
século, ao mesmo tempo que desmentia uma doutrina bramânica. Com efeito, está nas
leis de Manu que dos braços de Brama nasceram os guerreiros, e do ventre, os agricultores e comerciantes; o pai do Nicolau, adquirindo o despacho de capitão, corrigia esse ponto da
anatomia gentílica. Outro comerciante, que com ele competia em tudo, embora familiares e amigos, apenas teve notícia do despacho, foi também levar a sua
pedra ao cais. Desgraçadamente, o despeito de ter ficado atrás alguns dias sugeriu-lhe um arbítrio de mau gosto e, no nosso caso, funesto; foi assim que ele pediu ao vice-rei
outro posto de oficial do cais (tal era o nome dado aos agraciados por aquele motivo) para um filho de sete anos. O vice-rei hesitou; mas o pretendente, além de duplicar o
donativo, meteu grandes empenhos, e o menino saiu nomeado alferes. Tudo correu em segredo; o pai de Nicolau só teve notícia do caso no domingo próximo, na
igreja do Carmo, ao ver os dois, pai e filho, vindo o menino com uma fardinha, que, por galanteria, lhe meteram no corpo. Nicolau, que também ali
estava, fez-se lívido; depois, num ímpeto, atirou-se sobre o jovem alferes e rasgou-lhe a farda, antes que os pais pudessem acudir. Um escândalo. O rebuliço do povo, a indignação dos
devotos, as queixas do agredido interromperam por alguns instantes as cerimônias eclesiásticas. Os pais trocaram algumas palavras acerbas, fora, no adro, e ficaram brigados para todo o sempre.
- Este rapaz há de ser a nossa desgraça! - bradava o pai de Nicolau, em casa, depois do episódio.
Nicolau apanhou então muita pancada, curtiu muita dor, chorou, soluçou; mas de emenda cousa nenhuma. Os brinquedos dos outros meninos não ficaram menos expostos. O mesmo passou a acontecer às roupas. Os meninos mais ricos do bairro não saíam fora senão com as mais modestas vestimentas caseiras, único modo de escapar às unhas de Nicolau. Com o andar do tempo, estendeu ele a aversão às próprias caras, quando eram bonitas, ou tidas como tais. A rua em que ele residia contava um sem-número de caras quebradas, arranhadas, conspurcadas. As cousas chegaram a tal ponto, que o pai resolveu trancá-lo em casa durante uns três ou quatro meses. Foi um paliativo, e, como tal, excelente. Enquanto durou a reclusão, Nicolau mostrou-se nada menos que angélico; fora daquele sestro mórbido, era meigo, dócil, obediente, amigo da família, pontual nas rezas. No fim dos quatro meses, o pai soltou-o; era tempo de o meter com um professor de leitura e gramática.
- Deixe-o comigo - disse o professor -; deixe-o comigo, e com esta (apontava para a palmatória)... Com esta, é duvidoso que ele tenha vontade de maltratar os companheiros.
Frívolo! Três vezes frívolo professor! Sim, não há dúvida, que ele conseguiu poupar os meninos bonitos e as roupas vistosas, castigando as primeiras investidas do pobre Nicolau; mas em que é que este sarou da moléstia? Ao contrário, obrigado a conter-se, a engolir o impulso, padecia dobrado, fazia-se mais lívido, com reflexos de verde bronze; em certos casos, era compelido a voltar os olhos ou fechá-los, para não arrebentar, dizia ele. Por outro lado, se deixou de perseguir os mais graciosos ou melhor adornados, não perdoou aos que se mostravam mais adiantados no estudo; espancava-os, tirava-lhes os livros, e lançava-os fora, nas praias ou no mangue. Rixas, sangue, ódios, tais eram os frutos da vida, para ele, além das dores cruéis que padecia, e que a família teimava em não entender. Se acrescentarmos que ele não pôde estudar nada seguidamente, mas a trancos, e mal, como os vagabundos comem, nada fixo, nada metódico, teremos visto algumas das dolorosas consequências do fato mórbido, oculto e desconhecido. O pai, que sonhava para o filho a universidade, vendo-se obrigado a estrangular mais essa ilusão, esteve prestes a amaldiçoá-lo; foi a mãe que o salvou.
Saiu um século, entrou outro, sem desaparecer a lesão do Nicolau. Morreu-lhe o pai em 1807 e a mãe, em 1809; a irmã casou com um médico holandês, treze meses depois. Nicolau passou a viver só. Tinha vinte e três anos; era um dos petimetres da cidade, mas um singular petimetre, que não podia encarar nenhum outro, ou fosse mais gentil de feições, ou portador de algum colete especial, sem padecer uma dor violenta, tão violenta, que o obrigava às vezes a trincar o beiço até deitar sangue. Tinha ocasiões de cambalear; outras, de escorrer-lhe pelo canto da boca um fio quase imperceptível de espuma. E o resto não era menos cruel. Nicolau ficava então ríspido; em casa achava tudo mau, tudo incômodo, tudo nauseabundo; feria a cabeça aos escravos com os pratos, que iam partir-se também, e perseguia os cães, a pontapés; não sossegava dez minutos, não comia, ou comia mal. Enfim dormia; e ainda bem que dormia. O sono reparava tudo. Acordava lhano e meigo, alma de patriarca, beijando os cães entre as orelhas, deixando-se lamber por eles, dando-lhes do melhor que tinha, chamando aos escravos as cousas mais familiares e ternas. E tudo, cães e escravos, esqueciam as pancadas da véspera, e acudiam às vozes dele obedientes, namorados, como se este fosse o verdadeiro senhor, e não o outro.
Um dia, estando ele em casa da irmã, perguntou-lhe esta por que motivo não adotava uma carreira qualquer, alguma cousa em que se ocupasse, e...
- Tens razão, vou ver - disse ele.
Interveio o cunhado e opinou por um emprego na diplomacia. O cunhado principiava a desconfiar de alguma doença e supunha que a mudança de clima bastava a restabelecê-lo. Nicolau
arranjou uma carta de apresentação, e foi ter com o
ministro de Estrangeiros. Achou-o rodeado de alguns oficiais da secretaria, prestes a ir ao paço, levar a notícia da
segunda queda de Napoleão, notícia que chegara alguns minutos antes. A figura do ministro, as circunstâncias do momento, as reverências dos oficiais, tudo isso deu um tal rebate ao
coração de Nicolau, que ele não pôde encarar o ministro. Teimou, seis ou oito vezes, em levantar os olhos, e da única em que o conseguiu, fizeram-se-lhe tão vesgos, que não via
ninguém, ou só uma sombra, um vulto, que lhe doía nas pupilas, ao mesmo tempo que a face ia ficando verde. Nicolau recuou, estendeu a mão trêmula ao reposteiro, e fugiu.
- Não quero ser nada! - disse ele à irmã, chegando a casa -; fico com vocês e os meus amigos.
Os amigos eram os rapazes mais antipáticos da cidade, vulgares e ínfimos. Nicolau escolhera-os de propósito. Viver segregado dos principais era para ele um grande sacrifício; mas, como teria de padecer muito mais vivendo com eles, tragava a situação. Isto prova que ele tinha um certo conhecimento empírico do mal e do paliativo. A verdade é que, com esses companheiros, desapareciam todas as perturbações fisiológicas do Nicolau. Ele fitava-os sem lividez, sem olhos vesgos, sem cambalear, sem nada. Além disso, não só eles lhe poupavam a natural irritabilidade, como porfiavam em tornar-lhe a vida, se não deliciosa, tranquila; e para isso, diziam-lhe as maiores finezas do mundo, em atitudes cativas, ou com uma certa familiaridade inferior. Nicolau amava em geral as naturezas subalternas, como os doentes amam a droga que lhes restitui a saúde; acariciava-as paternalmente, dava-lhes o louvor abundante e cordial, emprestava-lhes dinheiro, distribuía-lhes mimos, abria-lhes a alma...
Veio o grito do Ipiranga; Nicolau meteu-se na política.
Em 1823 vamos achá-lo na Constituinte. Não há que dizer ao modo por que ele cumpriu os deveres do cargo. Íntegro, desinteressado, patriota, não exercia de graça essas virtudes
públicas, mas à custa de muita tempestade moral. Pode-se dizer, metaforicamente, que a frequência da
Câmara custava-lhe sangue precioso. Não era só porque os debates lhe pareciam insuportáveis, mas também porque lhe era difícil encarar certos homens, especialmente em certos dias.
Montezuma, por exemplo, parecia-lhe balofo,
Vergueiro, maçudo, os
Andradas, execráveis. Cada discurso, não só dos principais oradores, mas dos secundários, era para o Nicolau verdadeiro suplício. E, não obstante, firme, pontual. Nunca a votação o
achou ausente; nunca o nome dele soou sem eco pela augusta sala. Qualquer que fosse o seu desespero, sabia conter-se e pôr a ideia da pátria acima do alívio próprio. Talvez aplaudisse
in petto o
decreto da dissolução. Não afirmo; mas há bons fundamentos para crer que o Nicolau, apesar das mostras exteriores, gostou de ver dissolvida a assembleia. E se essa conjectura é
verdadeira, não menos o será esta outra: - que a
deportação de alguns dos chefes constituintes, declarados inimigos públicos, veio aguar-lhe aquele prazer. Nicolau, que padecera com os discursos deles, não menos padeceu com o
exílio, posto lhes desse um certo relevo. Se ele também fosse exilado!
- Você podia casar, mano - disse-lhe a irmã.
- Não tenho noiva.
- Arranjo-lhe uma. Valeu?
Era um plano do marido. Na opinião deste, a moléstia do Nicolau estava descoberta; era um verme do baço, que se nutria da dor do paciente, isto é, de uma secreção especial, produzida pela vista de alguns fatos, situações ou pessoas. A questão era matar o verme; mas, não conhecendo nenhuma substância química própria a destruí-lo, restava o recurso de obstar à secreção, cuja ausência daria igual resultado. Portanto, urgia casar o Nicolau, com alguma moça bonita e prendada, separá-lo do povoado, metê-lo em alguma fazenda, para onde levaria a melhor baixela, os melhores trastes, os mais reles amigos, etc.
- Todas as manhãs - continuou ele - receberá o Nicolau um jornal que vou mandar imprimir com o único fim de lhe dizer as cousas mais agradáveis do mundo, e dizê-las
nominalmente, recordando os seus modestos, mas profícuos trabalhos da Constituinte, e atribuindo-lhe muitas aventuras namoradas, agudezas de espírito, rasgos de
coragem. Já falei ao
almirante holandês para consentir que, de quando em quando, vá ter com o Nicolau algum dos nossos oficiais dizer-lhe que não podia voltar para
a Haia sem a honra de contemplar um cidadão tão eminente e simpático, em quem se reúnem qualidades raras, e, de ordinário, dispersas. Você, se puder alcançar de alguma modista, a
Gudin, por exemplo, que ponha o nome de Nicolau em um chapéu ou mantelete, ajudará muito a cura de seu mano. Cartas amorosas anônimas, enviadas pelo correio, são um recurso
eficaz... Mas comecemos pelo princípio, que é casá-lo.
Nunca um plano foi mais conscienciosamente executado. A noiva escolhida era a mais esbelta, ou uma das mais esbeltas da capital. Casou-os o próprio bispo. Recolhido à fazenda, foram
com ele somente alguns de seus mais triviais amigos; fez-se o jornal, mandaram-se as cartas, peitaram-se as visitas. Durante três meses tudo caminhou às mil maravilhas. Mas a
natureza, apostada em lograr o homem, mostrou ainda desta vez que ela possui segredos inopináveis. Um dos meios de agradar ao Nicolau era elogiar a beleza, a elegância e as
virtudes da mulher; mas a moléstia caminhara, e o que parecia remédio excelente foi simples agravação do mal. Nicolau, ao fim de certo tempo, achava ociosos e excessivos tantos
elogios à mulher, e bastava isto a impacientá-lo, e a impaciência, a produzir-lhe a fatal secreção. Parece mesmo que chegou ao ponto de não poder encará-la muito tempo, e a
encará-la mal; vieram algumas rixas, que seriam o princípio de uma separação, se ela não morresse daí a pouco. A dor do Nicolau foi profunda e verdadeira; mas a cura
interrompeu-se logo, porque ele desceu ao
Rio de Janeiro, onde o vamos achar, tempos depois, entre os
revolucionários de 1831.
Conquanto pareça temerário dizer as causas que levaram o Nicolau para o
campo da Aclamação, na noite de 6 para 7 de abril, penso que não estará longe da verdade quem supuser que - foi o raciocínio de
um ateniense célebre e anônimo. Tanto os que diziam bem, como os que diziam mal do
imperador, tinham enchido as medidas ao Nicolau. Esse homem, que inspirava entusiasmos e ódios, cujo nome era repetido onde quer que o Nicolau estivesse, na rua, no teatro, nas
casas alheias, tornou-se uma verdadeira perseguição mórbida, daí o fervor com que ele meteu a mão no movimento de 1831. A
abdicação foi um alívio. Verdade é que a
Regência o achou dentro de pouco tempo entre os seus adversários; e há quem afirme que ele se filiou ao
partido caramuru ou restaurador, posto não ficasse prova do ato. O que é certo é que a vida pública do Nicolau cessou com a
Maioridade.
A doença apoderara-se definitivamente do organismo. Nicolau ia, a pouco e pouco, recuando na solidão. Não podia fazer certas visitas, frequentar certas casas. O teatro mal
chegava a distraí-lo. Era tão melindroso o estado dos seus órgãos auditivos, que o ruído dos aplausos causava-lhe dores atrozes. O entusiasmo da população fluminense para com a famosa
Candiani e a
Meréa, mas a Candiani principalmente,
cujo carro puxaram alguns braços humanos, obséquio tanto mais insigne quanto que o não fariam ao próprio
Platão, esse entusiasmo foi uma das maiores mortificações do Nicolau. Ele chegou ao ponto de não ir mais ao teatro, de achar a Candiani insuportável, e preferir a
Norma dos realejos à da prima-dona. Não era por exageração de patriota que ele gostava de ouvir o
João Caetano, nos primeiros tempos; mas afinal deixou-o também, e quase que inteiramente os teatros.
- Está perdido! - pensou o cunhado -. Se pudéssemos dar-lhe um baço novo...
Como pensar em semelhante absurdo? Estava naturalmente perdido. Já não bastavam os recreios domésticos. As tarefas literárias a que se deu, versos de família, glosas a prêmio e odes
políticas, não duraram muito tempo, e pode ser até que lhe dobrassem o mal. De fato, um dia, pareceu-lhe que essa ocupação era a cousa mais ridícula do mundo, e os aplausos ao
Gonçalves Dias, por exemplo, deram-lhe ideia de um povo trivial e de mau gosto. Esse sentimento literário, fruto de uma lesão orgânica, reagiu sobre a mesma lesão, ao ponto de
produzir graves crises, que o tiveram algum tempo na cama. O cunhado aproveitou o momento para desterrar-lhe da casa todos os livros de certo porte.
Explica-se menos o desalinho com que daí a meses começou a vestir-se. Educado com hábitos de elegância, era antigo freguês de um dos principais alfaiates da corte, o
Plum, não passando um só dia em que não fosse pentear-se ao
Desmarais e Gérard, coiffeurs de la cour, à
rua do Ouvidor. Parece que achou enfatuada esta denominação de cabeleireiros do paço, e castigou-os indo pentear-se a um barbeiro ínfimo. Quanto ao motivo que o levou a trocar de
traje, repito que é inteiramente obscuro, e a não haver sugestão da idade, é inexplicável. A despedida do cozinheiro é outro enigma. Nicolau, por insinuação do cunhado, que o queria
distrair, dava dois jantares por semana; e os convivas eram unânimes em achar que o cozinheiro dele primava sobre todos os da
capital. Realmente os pratos eram bons, alguns ótimos, mas o elogio era um tanto enfático, excessivo, para o fim justamente de ser agradável ao Nicolau, e assim aconteceu algum
tempo. Como entender, porém, que um domingo, acabado o jantar, que fora magnífico, despedisse ele um varão tão insigne, causa indireta de alguns dos seus mais deleitosos momentos na
terra? Mistério impenetrável.
- Era um ladrão! - foi a resposta que ele deu ao cunhado.
Nem os esforços deste nem os da irmã e dos amigos, nem os bens, nada melhorou o nosso triste Nicolau. A secreção do baço tornou-se perene, e o verme reproduziu-se aos milhões, teoria que não sei se é verdadeira, mas enfim era a do cunhado. Os últimos anos foram crudelíssimos. Quase se pode jurar que ele viveu então continuamente verde, irritado, olhos vesgos, padecendo consigo ainda muito mais do que fazia padecer aos outros. A menor ou maior cousa triturava-lhe os nervos: um bom discurso, um artista hábil, uma sege, uma gravata, um soneto, um dito, um sonho interessante, tudo dava de si uma crise.
Quis ele deixar-se morrer? Assim se poderia supor, ao ver a impassibilidade com que rejeitou os remédios dos principais médicos da corte; foi necessário recorrer à simulação, e dá-los, enfim, como receitados por um ignorantão do tempo. Mas era tarde. A morte levou-o ao cabo de duas semanas.
- Joaquim Soares? - bradou atônito o cunhado, ao saber da verba testamentária do defunto, ordenando que o caixão fosse fabricado por aquele industrial -. Mas os caixões desse sujeito não prestam para nada, e...
- Paciência! - interrompeu a mulher -. A vontade do mano há de cumprir-se.
Relíquias de casa velha
RELÍQUIAS DE CASA VELHA
Machado de Assis
NOTA DESTA EDIÇÃO ELETRÔNICA
Relíquias de casa velha (1906) é a última coletânea de textos publicada por Machado de Assis, dois anos apenas antes de morrer. Reunindo escritos de natureza muito diversa - a começar pelo belíssimo soneto "A Carolina", testemunho comoventemente autobiográfico da própria viuvez -, oferece ao leitor um punhado de contos, nove ao todo, além de algumas "Páginas críticas e comemorativas" e duas comédias "Não consultes médico" (1896) e "Lição de botânica" (1906). Fiel ao propósito de publicação da ficção de Machado como hipertexto, esta edição eletrônica apresenta as narrativas estritamente ficcionais, ou seja, os contos da coletânea.
Dos nove contos, apenas quatro foram veiculados na imprensa: "Evolução" (Gazeta de Notícias, 24 de junho de 1884), "Maria Cora" (A Estação, entre janeiro e março de 1898, com o título de "O relógio parado"), "Pílades e Orestes" e "Anedota do cabriolé" (ambos no Almanaque Brasileiro Garnier, o primeiro em 1903, o segundo, em 1905). Os demais cinco contos, segundo José Galante de Sousa afirma na sua Bibliografia de Machado de Assis (ainda hoje a mais autorizada fonte no que diz respeito às datas e locais de publicação dos textos de Machado de Assis), são todos inéditos: "Pai contra mãe", "Marcha Fúnebre", "Um capitão de voluntários", "Suje-se gordo!" e "Umas férias".
Como nos demais livros de contos, o título no plural aponta para a diversidade temática das histórias, para o caráter, por assim dizer, avulso das peças, diversidade para a qual o próprio autor chama atenção na "Advertência".
O conto de abertura de Relíquias de casa velha, "Pai contra mãe", que muitos historiadores consideram, apesar de seu estatuto de ficção, como fiel reconstituição de época - a época pré-Abolição, em que se caçavam escravos fujões pelas ruas do Rio de Janeiro, com todo o horror que isso implica - , dialoga em linha direta com a história que abre Páginas recolhidas, "O caso da vara". Ambos são peças de denúncia do regime escravagista, coisa, aliás, rara na ficção de Machado de Assis, vindo à tona só incidentalmente nos romances, como, por exemplo, o caso do moleque Prudêncio de Memórias póstumas de Brás Cubas que, uma vez liberto por Brás, compra para si um escravo que submete aos mesmos maus tratos de que fora vítima quando seu ex-dono o maltratava, em criança. A história acentua a oposição cruel entre as situações do perseguidor, branco, chamado Cândido Neves (cuja mulher, também branca, como se não bastasse o nome do marido, chama-se Clara) e da escrava fugida, a mulata Arminda. Cândido a persegue e captura para ganhar a recompensa do dono da escrava e, com aqueles cem mil-réis, comprar alimento para o filho recém-nascido, o que, como constatamos ao ler o conto, tem um conteúdo irônico avassalador. O silêncio que se instala depois da fala final de Candinho permanece na memória "auditiva" do leitor, que custa a recompor-se para prosseguir na leitura do livro.
A ironia volta a aflorar em outras histórias de Relíquias de casa velha. Pensamos em "Maria Cora" e "Um capitão de voluntários", atravessados por uma sensualidade explicitada de maneira pouco habitual no escritor "pudico" que foi Machado de Assis. Em "Maria Cora", tanto a personagem-título, quanto personagens secundárias (Dolores e Prazeres), ambas amantes do marido de Maria Cora, são mulheres movidas a paixão. Baste remeter o leitor para duas cenas do conto: a reação de Prazeres quando o narrador mata João da Fonseca e a de Maria Cora, quando, na última página do conto, o narrador lhe apresenta, como prova de que havia mesmo matado o marido que a traíra tantas vezes, os cabelos que cortara ao cadáver. Há um fosso intransponível entre o desejo do narrador por Maria Cora (o qual fora capaz de matar por ela) e a paixão dela pelo marido. O narrador escamoteia a própria perplexidade diante da reação final da moça, não comenta nada: os fatos falam por si.
Em "Um capitão de voluntários", a personagem feminina, Maria, "que era um modelo de graças finas, toda vida, toda movimento", é também uma mulher sensualíssima e, como a Genoveva de "Noite de almirante" (Histórias sem data, de 1884), é completamente amoral. Vivendo uma relação estável com X..., um dia sente-se atraída pelo jovem amigo do amante (o narrador da história), vive com ele uma paixão ardente e fugaz, enfastia-se, repudia-o. Veja o leitor a ironia final, que a pena destra de Machado de Assis resume num só adjetivo, "leal", inserido numa dedicatória de X... ao narrador do conto.
Em "Marcha fúnebre", o protagonista, Cordovil, pondo-se a conjeturar sobre a própria morte, diz desejá-la inesperada e rápida, mas, quando ela se anuncia, esquiva-se dela e, corroídas pelo medo de morrer, esboroa-se toda a sua "filosofia" sobre ela.
"Suje-se gordo!" problematiza não a amoralidade, que se pode dizer inocente, mas a imoralidade, que é sempre viciosa. O enredo apresenta um indivíduo que defende e põe em prática a ideia de que pequenos crimes merecem ser punidos porque lhes falta audácia e grandeza. Sua filosofia se resume na frase-título: se se trata de cometer um delito (no caso em questão, um desfalque), que se faça isto em grande estilo. A imoralidade triunfa, e o efeito, por assim dizer "cômico" do conto é corroído, deixando outra vez no leitor um travo amargo de desconforto ético, embora, como quase sempre, Machado dê um jeito de terminar o conto de maneira leve, com um gracejo.
"Umas férias" visita o universo infantil, como acontecera em "Conto de escola", de Várias histórias (1896). Note-se, no entanto, que, em ambos, as personagens são crianças, mas os temas abordados são de adulto. "Conto de escola" fala de corrupção e de delação, "Umas férias" fala da morte. O que é estranho e inquietante é essas questões serem tratadas a partir de um narrador menino. É como se, da incompatibilidade entre o assunto narrado e quem o narra, surgisse a possibilidade de melhor abordá-lo, a partir da inocência, que leva o menino narrador de "Umas férias" a experimentar "uma grande alegria sem férias", quando afinal lhe permitem voltar à escola.
Sob o título "Evolução", o narrador conta a história de como evolui, na mente de um conhecido seu, a gradual de apropriação de uma ideia que era, na verdade, dele, narrador. Imediatamente o leitor (tanto o de A Estação, em 1884, quanto o de Relíquias de casa velha, em 1906) associa o título com o evolucionismo de Darwin e Spencer, e o conto evolui para um final desconcertante, em que fica mais do que patente o ceticismo machadiano em relação a qualquer teoria, a qualquer explicação que desse sentido à existência humana. As cinco palavras da última frase são demolidoras, ainda que ditas em tom ligeiro, quase de brincadeira.
"Pílades e Orestes" e "Anedota do cabriolé" encerram a coleção, e tocam ambos em tabus sociais: a homossexualidade e o incesto. No primeiro, dois amigos, Quintanilha e Gonçalves, são inseparáveis, e embora não haja no mito, nem tampouco na tragédia grega de Electra, de que Machado toma emprestados os nomes que dão título ao conto, nenhuma implicação de homossexualismo entre as duas personagens, e embora no conto Quintanilha (Pílades) se sacrifique pelo amigo, a quem cede a noiva (que era sua prima) e a fortuna (quando no mito é Pílades quem se casa com a irmã de Orestes), a história permite que se infira que, há pelo menos de Quintanilha em relação a Gonçalves, uma inclinação que vai além da amizade. E, como jamais as coisas são simples ou unívocas nas narrativas machadianas, o conto deixa também no leitor a suspeita de que Gonçalves (Orestes) manipula o amigo o tempo todo, e como que alimenta a sua dedicação desmesurada, sabendo dela tirar todo proveito.
Quanto a "Anedota do cabriolé", trata-se da história de um casal que vem fugido para o Rio de Janeiro, para aqui morrer, como se esse destino estivesse predeterminado, espécie de castigo divino por serem irmãos e, sabendo-se irmãos, continuarem a amar-se como homem e mulher. Na verdade, "Anedota do cabriolé" é uma história sobre a bisbilhotice, aqui encarnada no sacristão João das Mercês.
Para estabelecer o texto da presente edição eletrônica, utilizaram-se como fonte edições disponíveis na internet, cotejadas com a edição crítica da Comissão Machado de Assis, bem como com a publicada pela editora Garnier, com texto estabelecido por Adriano da Gama Kury, em 1990. Em caso de discrepância, foram consultadas a primeira e a segunda edições, existentes na biblioteca da Fundação Casa de Rui Barbosa.
Foi feita uma atualização ortográfica, mas, sempre que duas formas são consignadas em dicionários de hoje, respeitou-se o que está nas primeiras edições: "dous" (e não "dois"), "cousa" (e não "coisa"), "açoute" (e não "açoite"). Usaram-se iniciais maiúsculas para instituições, fatos e períodos históricos ("Ministério do Império", "Proclamação da República", "Guerra do Paraguai".
Quanto aos numerais, manteve-se a forma por extenso, tal como figuram nas primeiras edições. Procedeu-se assim por considerar-se que tais usos compõem o que se poderia chamar de "atmosfera textual", que ajuda o leitor de hoje a se transportar para a época em que foram escritas as histórias. Assim, preservaram-se (e anotaram-se) palavras estrangeiras na língua original, mesmo quando delas já existe forma aportuguesada: "cognac" (e não "conhaque"), "cabriolet" (e não "cabriolé").
Anotaram-se também palavras cujo sentido no texto machadiano é diferente do usual no português brasileiro do início do século XXI. Por exemplo: o adjetivo "ladino", referindo-se ao escravo que domina bem a língua portuguesa; o substantivo "trocados" no sentido, hoje pouco usual, de "trocadilhos"; o substantivo "fiel", empregado com o sentido, hoje também pouco usual, de "empregado subalterno", sobretudo de cartório. Usos hoje considerados "esquisitos" foram, obviamente, mantidos: "não há negar" (em vez de "não há como negar"); "[O] estremeção que teve fez-lhe ver que não era verdade" (e não "fê-lo ver"); "talvez" seguido de verbo no indicativo:"uma patrulha que estava perto talvez desconfiou dos meus gestos". Respeitou-se a oscilação entre "até ao" / "até à" e "até o" / "até a", bem como a forma "Minha mãe sufocou este sonho pouco depois dele nascer", embora o padrão culto prefira "de ele nascer".
Talvez o maior problema no estabelecimento de textos escritos no século XIX seja o da pontuação. Ao preparar esta edição, optou-se por uma política a meio caminho entre uma atualização radical, de acordo com as normas presentemente vigentes, e o respeito à pontuação de Machado de Assis, a qual, aliás, era comum aos seus contemporâneos, no Brasil e em Portugal. Conservaram-se todas as vírgulas antes da aditiva "e" precedendo verbos cujo sujeito era precisamente o mesmo da oração anterior: "Não o apanhava logo, espreitava lugar azado, e de um salto tinha a gratificação nas mãos". Observe-se que o autor, às vezes, omite a vírgula em casos absolutamente idênticos: "[...] tinha a voz presa e na rua senti uma vertigem igual à que me deu a primeira paixão da minha vida". Também se respeitou o não uso da vírgula antes da aditiva "e" precedendo verbos cujo sujeito era diferente do da oração anterior: "[...] fui à mesa do juiz, dei as respostas do conselho e o réu saiu condenado", valendo assinalar que às vezes o autor a emprega: "Não falou à mesa, e a dor podia explicar o silêncio". Inseriu-se vírgula para assinalar elipse do verbo, como em "Nem a pasta lhe deu glória, nem a demissão, desgosto", procedimento às vezes seguido pelo autor, como em "Chamo-me Inácio; ele, Benedito".
Respeitou-se o não uso de vírgula antes de oração consecutiva, a não ser em "tal ódio foi, que ele esteve prestes a abrir mão dela", em que se inseriu a vírgula, pela clareza. Assim também nos casos em que se considerou que a vírgula (ou a ausência dela) comprometia o melhor entendimento do texto, como ocorreu no caso de vírgulas precedendo orações adjetivas restritivas (que foram suprimidas) e de falta de vírgulas precedendo orações adjetivas explicativas (que foram inseridas).
Preservaram-se algumas idiossincrasias de pontuação, como as seguintes: "Na ocasião da saída, ouvi os gritos de minha mãe, o rumor dos passos, algumas palavras abafadas de pessoas que pegavam nas alças do caixão, creio eu: - "vire de lado, - mais à esquerda, - assim, segure bem..."; ou "Não é muito, mas é alguma cousa, e está com a filosofia de Julieta: "Que valem nomes? perguntava ela ao namorado. A rosa, como quer que se lhe chame, terá sempre o mesmo cheiro."; o uso de vírgula depois da adversativa "mas", quando identificamos uma marcação de pausa, próxima da oralidade: "Mas, por que não tem aparecido?", ou "Mas, não; verdadeiramente ficou pálido".
Nos casos de fala de personagem em discurso indireto, no meio de um parágrafo, usaram-se aspas: "[...] Que ideia faria de mim?" perguntou-me com gesto de pudor que a transfigurou [...]". Abrimos novo parágrafo quando nas edições anteriores havia travessão (no meio de um parágrafo) introduzindo fala em discurso direto:
João da Fonseca achava-se então em um renascimento do delírio conjugal; respondeu à mulher jurando tudo e mais alguma cousa.
- Aos quarenta anos - concluiu ele -, não se fazem duas aventuras daquelas, e a minha foi de doer. Você verá, agora é para sempre.
Optou-se por recorrer às aspas sempre que a "fala" de uma personagem é, na verdade, a expressão verbal de um pensamento que não chega a ser exteriorizado. Nos diálogos, foi usado o travessão, mesmo quando nas edições anteriores este está no meio do mesmo parágrafo. A isso autoriza o procedimento do autor em demais passagens de diferentes contos, o que nos leva a crer que a disposição do diálogo dentro do parágrafo tenha sido antes erro tipográfico que decisão autoral.
Esta não pretende ser uma edição crítica. O objetivo foi produzir uma edição fidedigna do texto machadiano que, através dos hiperlinks, oferece ao leitor do século XXI uma ferramenta de fácil utilização e encurta a distância entre ele, leitor, e o enorme universo de referências de Machado de Assis.
Os textos dos hiperlinks que constituem referências histórico-literárias e de caráter simbólico foram retirados do banco de dados "Citações e alusões na ficção de Machado de Assis", acessível neste portal. Na pesquisa dos links que não constituem referências da natureza descrita acima, como é o caso de nomes de ruas e cidades, de estabelecimentos comerciais etc., registre-se aqui a colaboração de Alice Ewbank e Camila Abreu, ex-bolsistas de Iniciação Científica na Fundação Casa de Rui Barbosa; no estabelecimento do texto e em sua revisão, a de Laíza Verçosa do Nascimento, bolsista de Iniciação Científica. Na construção do texto digital e do software que possibilita a visualização dos links, o crédito é de Eduardo Pinheiro da Costa, técnico em informática da Fundação Casa de Rui Barbosa.
Marta de Senna, pesquisadora
Laíza Verçosa do Nascimento, bolsista de Iniciação Científica
Fundação Casa de Rui Barbosa/CNPq
junho de 2013
Advertência
Uma casa tem muita vez as suas relíquias, lembranças de um dia ou de outro, da tristeza que passou, da felicidade que se perdeu. Supõe que o dono pense em as arejar e expor para teu e meu desenfado. Nem todas serão interessantes, não raras serão aborrecidas, mas, se o dono tiver cuidado, pode extrair uma dúzia delas que mereçam sair cá fora.
Chama-lhe à minha vida uma casa, dá o nome de relíquias aos inéditos e impressos que aqui vão, ideias, histórias, críticas, diálogos, e verás explicados o livro e o título. Possivelmente não terão a mesma suposta fortuna daquela dúzia de outras, nem todas valerão a pena de sair cá fora. Depende da tua impressão, leitor amigo, como dependerá de ti a absolvição da má escolha.
Machado de Assis
Corpora
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